Escalada móvel no Frey | Odiamos amar a Argentina | Rio Caminhadas.com.br

Escalada móvel no Frey | Odiamos amar a Argentina

10 Jan – Domingo

A manhã fria chegou cinzenta. Depois do café da manhã, Claudio deu a idéia de procurarmos sherpas para levarem nossas mochilas. O peso estava absurdo. Aproveitando que fomos comprar o guia impresso do Frey no Club Andino, perguntamos se havia esse serviço disponível. O responsável pelo Club disse que sim e nos deu o número do telefone de um porteador – como eles chamam os carregadores –. Ligamos, mas para aquele momento não havia disponibilidade. Resolvido, então, que aquele peso iria nas nossas costas, pegamos um táxi até o Cerro Catedral (75 pesos). O início da trilha para o Frey fica lá. É possível ir de ônibus, que trafegam regularmente até e desde o Cerro Catedral. Você pode ver os horários clicando aqui.

Quase não cabe

Teleférico próximo à trilha

 

Há duas opções para chegar ao Vale. A primeira é a trilha clássica, em média, quatro horas de caminhada. A outra opção é o teleférico (30 pesos). Subindo por aqui você economiza cerca de uma hora, mas a trilha é bem mais íngreme – mesmo sendo uma descida – e possui muitas pedras soltas. Optamos pela trilha clássica.

Enrolamos ali uma meia hora, com medo de jogar as mochilas nas costas e, finalmente, iniciamos a caminhada. Cada um com duas mochilas, uma atrás e outra na frente, essa impedindo quase sempre que víssemos onde pisávamos.

Início da bendita

Só faltam 4h

 

A trilha vai de 800 a 1700 m de altitude, é bem sinalizada e muito tranquila, se você for com uma mochila de ataque. Com quase 30 kg no lombo se transforma em uma Via Crucis. Pra completar o pacote, o coitado do escalador, que já está morrendo, ainda sofre com uma espécie de mosca argentina (tábanos). A última palavra em perturbação. Esses bichos infernais ficam te sobrevoando e pousam em qualquer parte do teu corpo, protegida ou não, para picar. Tanto faz se você está andando ou parado. Devo ter matado uma centena delas. São inconvenientes demais, mas são burras. Ficam ali no teu braço o maior tempão, de bobeira, procurando um lugar legal pra picar e tal… aí… ploft! Já era.

Agora menos

E bora andar

Metade do caminho

Uma hora que nunca passa!

 

Claudio disparou na frente, castigou os joelhos, e chegou ao Vale com menos de quatro horas. Mauro e eu com cinco. A melhor visão da trilha foi o abrigo, o sofrimento tinha acabado. O Vale do Frey é um espetáculo, um dos lugares mais bonitos que conheci. A impressão que se tem é que aquilo tudo foi desmoronando e ficaram somente as agulhas de rocha, são várias por todos os lados. Você chega ao abrigo, que fica de frente para a Laguna Toncek. Do fundo do vale as agulhas estão te olhando com neves eternas e línguas de água gelada lambendo as rochas e alimentando a laguna. Bunidimais!

 

Chegamos, passamos pelo abrigo e fomos para a margem esquerda da Toncek, o melhor lugar para armar a barraca. E falando em armar barraca, há alguns detalhes importantes a serem observados:

1º – O vento sempre sopra do fundo do Vale para a cidade. Procure colocar as lengas – plantas da região – entre o fundo do Vale e a barraca. O vento lá é feroz e transforma sua casa em uma barraca voadora fácil, fácil. Vimos acontecer isso com um argentino, que entrou desesperado no abrigo, procurando alguém que pudesse emprestar uma lanterna pra ele descobrir o paradeiro do seu objeto voador, que o vento havia levado com tudo dentro.

2º – Prefira armar a barraca em um lugar com alguma grama, pois onde há areia, em dias de vento, que são bem comuns, essa areia toda vai parar dentro do seu saco de dormir.

Depois de garantirmos nossa moradia, fui tomar um banho na Laguna. Coloquei a sunga, ninguém acreditou, mas depois viram que era verdade. Fomos cozinhar, enquanto o sol das 22h partia.

Se preferir, você não precisa levar panelas, talheres e demais apetrechos. Na cozinha do abrigo, que é de uso comum, há tudo isso. Basta levar seu fogareiro.

O abrigo também oferece pernoite (40 pesos), café da manhã (25 pesos) – a partir de 8 h – e demais refeições (40 pesos), além de bebidas (cerveja por 13 pesos e vinho a partir de 30) e um aquecedor na área comum, que às vezes lotava. Não há eletricidade. Os jogos de xadrez, cartas, canecas de cerveja e taças de vinho são iluminados por luz de velas. Há sanitários de uso público próximos do abrigo.

Claudio foi para a barraca, Mauro e eu ficamos um pouco no abrigo, descobrindo os sabores argentinos do vinho local. Passava da meia-noite e o céu estava completamente salpicado de estrelas. Nada indicava o que nos aguardava na manhã seguinte.

O prêmio por chegar

Noite

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